Dúvidas
Que não hajam dúvidas, a Poesia escreve-se no papel,
imagina-se na mente e sente-se no coração, no entanto,
esse papel é produto fabricado e extraído de árvores
abatidas, aniquiladas e arrancadas à força do seu meio,
como consequência mortal ou um aproveitamento vital,
duas narrativas racionalizadas pela mesma consciência,
uma interrogando o juízo, a outra afirmando a necessidade,
nada que incomode a nossa imaginação, mas fere o coração,
como qualquer dente ausente afectaria a nossa mastigação,
assim sendo, recomenda-se o mais humanamente possível,
por cada árvore que se abata, se gritem odes à vegetação,
se exaltem as paixões mais acesas pelas cores das flores,
se elevem os sentidos às mais altas cúpulas da nossa visão,
se apaziguem todas as almas, se respeite o infinito dos céus,
que sejam temidos os raios e trovões que sobre nós se abatam,
não se pragueje a figura de deus e se creia em algo supremo,
pois ao longo das nossas idades, todas aquelas interrogações
ou afirmações, encontrarão tantas respostas como soluções.
Será o equilíbrio global a manifestar-se, o diálogo entre o humano
e o ser animal que em todos nós habita, mas que nos inspira e assim dita!
Rui Cruz
imagem: pintura de Jeremy Mann*